Estive na Sala São Paulo na última sexta-feira. Fui para ouvir a quinta sinfonia de Mahler, embora a execução das quatro últimas canções de R. Strauss - três delas com textos do Nobel de literatura Herman Hesse - já valeria a noite. Juliane Banse, a bela soprano alemã, exala carisma e comprometimento artístico. Sua expressão doída ao cantar "E alma desguarnecida/ vagueie em vôos livres/ e encontre a vida profunda/ e múltipla na magia da noite" atesta sua embebição artística. Mas o seu marido, o maestro Christoph Poppen, foi o grande protagonista da noite. Há tempos, desde a apresentação de Daniel Barenboim e de Kurt Masur, não presenciava um maestro recebendo tanto tempo de aplausos. Merecidos. Regeu a OSESP com vigor e total domínio da orquestra, principalmente durante o terceiro movimento, bastante difícil em virtude de seus pizzicattos. O adagietto, talvez o movimento mais famoso de toda a obra mahleriana, imortalizado no cinema de L.Visconti (Morte em Veneza), foi executado de maneira impecável. Mahler é o meu compositor predileto ao lado de Beethoven e Brahms, embora saiba reconhecer a grandiosidade de Bach e Mozart. O que mais me toca em Mahler é a sua capacidade de evocar sentimentos que remetem o ouvinte a algo bastante primitivo e, por isso mesmo, universal. É como toda boa obra de arte, que é impulsionada, em última análise, por um denominador comum, humano, que não deixa nenhum de seus espectadores indiferente. E, para concluir, não poderia deixar de dizer que, se Poppen teve êxito, muito se deveu à OSESP, que continua sendo a melhor orquestra da América Latina, sem sombra de dúvida.
P.S.: Infelizmente, para macular de maneira indelével ainda mais o nosso país, entre o terceiro e o quarto movimentos, um celular tocou em algum lugar da platéia. Oxalá um dia a gente melhore.