Neuroplasticidade (2)
Retomando o post anterior. Norman Doidge atua como psiquiatra clínico. Cada vez mais o seu consultório é invadido por indivíduos jovens com problemas na esfera sexual, notadamente disfunção erétil - o nome politicamente correto para impotência. Em comum, todos esses pacientes são viciados em "web pornografia". A última década, em virtude da internet, propiciou uma radical mudança na oferta de material pornográfico. Há fotos e vídeos gratuitos para todos os gostos e perversões. O modelo prévio, de nus frontais que outrora escandalizaram as sociedades ocidentais, faz Hugh Hefner parecer uma ingênua e pueril criatura. O problema todo começa quando o viciado em pornografia passa a gastar oito horas por dia navegando, perdendo valiosas horas de sono em busca desse material e privando-se do convívio social. Além disso, frustra-se, pois não encontra na parceira sexual - namorada ou mulher - todo aquele "desempenho" artificial das protagonistas da web. Mas onde entra a neuroplasticidade nessa história toda? É muito simples. Diante de seu monitor, assistindo a vídeos ou vendo fotos, o "porno-adicto" tem o seu cérebro invadido por enormes quantidades de dopamina cada vez que se masturba. A dopamina, substância química que atua como potente neurotransmissor e que sabidamente desempenha relevante papel nos sistemas de recompensa cerebral , reforça esse tipo de comportamento por meio da modificação da circuitaria neuronal. Pronto: o estrago está feito. Cada vez que esse comportamento se repete, a circuitaria se torna mais alicerçada no cérebro e estabelece um novo padrão de desejos e fantasias sexuais que é somente possível de ser obtido no mundo virtual. O tratamento, que funciona em boa parte dos casos, consiste em evitar o comportamento e cortar o ciclo vicioso. Com o passar do tempo, plasticamente, a circuitaria neuronal se modifica e volta a entrar nos eixos. Nós, animais condicionados. Pavlovianamente!