Frankenstein e a infância perdida
Durante o último feriado, enquanto passeava pela cidade, entendi melhor o que Stephen Jay Gould quis dizer com a sua análise do Frankenstein, de Mary Shelley. Minha rememoração iniciou-se após notar um menino extremamente feio, que atraia a atenção dos transeuntes pela falta de traços fisionômicos bem feitos, pela aparência desarmônica piorada pelo jeito desleixado de se vestir. Mas era um menino. Gould escreveu, de maneira resumida explico aqui, que Frankenstein não era mau porque era feio, mas se tornou mau porque as pessoas só enxergavam a sua feiúra. "Sou mau porque sou desgraçado. Não sou eu desprezado e odiado por toda a humanidade? Devo eu respeitar o homem, quando ele me despreza? Se ele fosse bondoso comigo, eu, em vez de maltratá-lo, o cobriria de benefícios, com lágrimas de gratidão por me haver recebido. Mas isso é impossível; os sentidos humanos constituem barreiras instrasponíveis para a nossa união". Fico imaginando que homem se tornará aquele menino, crescendo sob os olhos de pessoas que nada além das aparências conseguem alcançar, que vivem numa sociedade cada vez mais preocupada com a beleza e com o lema forever young, que classifica as pessoas pelo seu poder de compra.
P.S.: Caro menino-feio, o que dizer das doces reminiscências da infância?
4 Comments:
Caro Amigo (não tão feio assim!), só posso dizer: uma pérola esta tua reflexão! A repugnância do outro é motivada, muitas vezes, por nosso sentimento de impotência para mudar o cenário. Um grande abraço. Paulo
Abração!
Caro Amigo,
Sim, e acho que sobretudo a Imagem, seja ela física ou subjetiva, interfere diretamente no jeito como os outros tratarão a pessoa referida - claro, é muito difícil de Frankestein não ter se tornado meio mal... -, e tanto porque o jeito como nos tratam vai gerar uma reação, certo?
Abraço,
DNY
Certíssimo!
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