"So disgusting"
Está travado o duelo. De um lado estão neurocientistas cognitivistas; do outro, psicólogos que estudam o comportamento humano. Os primeiros acreditam que o sentimento de repugnância provocado, por exemplo, pelo mau odor de um alimento podre é um importante instrumento na preservação da vida, na medida que nos impede de ingerir toxinas potencialmente letais - é a chamada repugnância visceral ("gut disgust"). Até aí, os dois lados estão de acordo. O problema começa quando os neurocientistas dizem que, além do asco visceral, o nojo moral ("moral disgust") também é um sentimento que, em termos evolutivos, tem a função de preservação da espécie humana. Assim, o mal estar provocado pela figura de um senador corrupto, que nos levaria a proferir a frase "esse tal político R.C. me dá nojo", seria o suficiente para que ele não mais recebesse o nosso voto e, talvez assim, conservássemos a sobrevivência sadia do grupo social. Os psicólogos discordam dessa visão e acreditam que o "moral disgust" dos cognitivistas não passa de uma metáfora, um recurso de linguagem, apenas. Há argumentos a favor e contra os dois grupos. Apesar de minha filiação à corrente dos neurocientistas, acho que as evidências de nosso atual cenário levariam a rápido nocaute a minha trupe, ainda no primeiro assalto.
P.S.: Para quem se interessar, peça por e-mail o artigo "The depths of disgust", publicado na edição de 14 de junho da Nature, ou acesse o site.
25 Comments:
Moral disgust no meio do nordestão?? sei não?. Eu acredito mais no Santo Hilário que fala Montaigne, podíamos fazer uma corrente para ele, pedindo a morte desses políticos ladrões, ia ser uma festa só na hora da morte.
s.o.
"P.S.: Para quem se interessar, peça por e-mail o artigo 'The depths of disgust', publicado na edição de 14 de junho da Nature"
Eu aceito. Pode anviar pro meu email? mayraggenia@hotmail.com
Obrigada.
Mas o meio ambiente não midifica esse "disgust"? Você acha que somos todos reféns da evolução?
Os psicólogos leram Nietzsche.
La Boétie: Sim, alguns leram.
Luiz: a questão não é ser refém ou não da evolução. A verdade é que NÃO temos opção. O meio é importante, obviamente, embora a minha experiência de vida e algumas leituras tenham feito, cada vez mais, dar peso maior para os nossos genes.
Genes morais?
Pois é, genes morais!! Era isso que eu queria dizer. Isso não me parece muito razoável, mas os genes não são tão iimportantes assim, pra mim.
Não se pode resumir o amplo sentido do que seja moral - muito menos se colocar no oblívio a ética que a orienta - a uma mera informação genética, posto que esta seja desenganadamente relevante para a análise do tema.
A evolução, com sua força intrínseca e irrefreável, faz com que somente os "genes" mais aptos sobrevivam e se perpetuem.Portanto, insisto em dizer que, em algum ponto da evolução de nossa espécie, o "moral disgust" deve ter sido relevante. Como diria um amigo, "seria necessário recontar a hiostória do homem"...
Essa é a questão da hierarquia. Há enormes dúvidas sobre o nível no qual a evolução exerce sua "força intrínseca e irrefreável". Há os darwinianos que acham que é o indivíduo. Os que, como Gould, acham que é a espécie. E os ultradarwinianos, como Dawkins, que acham que é no gene que a seleção natural, o uniformitarismo e a variação ocorrem. Substituir "genes" por indivíduo ou espécie no seu post torna sua afirmação muito mais crível.
PS. A ética orienta a moral ou o contrário?
La Boétie (ou Kad.?), fico com Darwin. Abço!
Tô até agora pensando nesse seu post. Que coisa, em Amigo? Complicado, muito complicado!
Então o Amigo de Montaigne mudou de idéia.
PS. devagarinho, vai....
Não, mudou o homem!
Caro Eti,
Fico surpreso com sua indagação, mas é evidente que a ética orienta a moral.
Será tão evidente assim? A Moral é muita mais antiga, primordial, anterior a qualquer esboço da ética socrática. Não tenho a mesma convicção. Gostaria de mais arguemntos, por favor.
r.o. Um argumento: Genealogia da Moral. Nietzsche. O livro que os neurocientistas e o anônimo não leram. Outro: Irmãos Karamazov. Dostoiévsky.
E continue não tendo convicção de nada...Não existe nada evidente...
"Genealogia da Moral" (Zur Genealogie der Moral: Eine Streitschrift). Li, no original, e acho que não há resposta para essa questão: a da precedência da Ética sobre a Moral. Continuo precisando de mais argumentos. Estou mais para asceta do que para hedonista- ainda.
Continuo sem argumentos. La Boétie, onde estás qua não respondes?
Por que queres tão ansiosamente demonstrar a precedência da Ética sobre a Moral?
Argumentos há para os dois lados. Nietzsche argumenta a favor da precedência da moral na Genealogia, principalmente se aceitares a origem da "má consciência" (por ex. IIa dissertação, parágrafo 16 ou no conceito de "Sittlichkeit der Sitte" desenvolvido em Aurora). Notai, que não vejo costume como sendo igual ao ethos...
O anti-ético é amoral? O ético tem sempre um comportamento moral? Moral de quem?
Não há uma verdade, tampouco um argumento que conduza a ela... Viver no devir não é fácil! Muitas crises de ascetismo se resolvem com vinho, paixões ou psicoterapia...
Caro La Boétie, a minha argumentação é de precedência da Moral sobre a Ética! Voltemos aos pais de Nietzsche, os filósofos gregos, Sócrates: a Ética surgiu a partir das frátrias, da necessidade de aglomeração humana, das decisões da pólis, da sobreposição do coletivo sobre o particular, o individual. A moral é individual; a Ética é coletiva!
Sócrates é o antipai de Nietzsche...Talvez, Heráclito (?)
No mais, estamos de acordo.
Entretanto, não julgo ser capaz de demonstrar a precedência de um sobre outro.
La Boétie,
antipai? Nietzsche não seria tão pouco agradecido a Sócrates..."Dos Gregos", em La Gaia Ciencia, o alemão deixa clara a sua dívida com Sócrates. Sua influência por Heráclito é óbvia. Prefiro não citar o óbvio. Estamos de acordo? Boa diatribe, meu estimado...
Temo não teres apreendido por completo "antipai".
Mas, não, não haverá diatribe posto que já compreendi tua ânsia por argumentos. Já os tem!
E também certezas demais...
Bom feriado!
Certezas? Só uma: a do post acima...
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