Faz parte do seu show?
Photo by Scientific American
É difícil, embora tentador, seguir o conselho do escritor colombiano Fernando Vallejo. Convidado da próxima FLIP, diz o ateu militante Vallejo: "A inconsciência ou não-consciência é condição sine qua non para a felicidade. Não se pode ser feliz sofrendo pelo próximo". Já faz alguns anos que tenho me indignado pela crescente indiferença da mídia e do governo em relação à epidemia da AIDS. Nas duas últimas décadas do século passado, poucos assuntos foram abordados tão insistentemente como a prevenção dessa doença cruel. No entanto, desde 2003 houve um arrefecimento do assunto. Fruto da terapia de alta eficácia (HAART, Highly Active Anti-Retroviral Therapy), que pode prolongar a sobrevida dos doentes sem curar a doença ? Não acredito. A triste razão foi a mudança de perfil epidemiológico, pois passsamos para a era da "pauperização e feminização" da enfermidade. Nada mais das emocionadas confissões de atores globais, intelectuais e artistas. Morrem agora as mulheres e os pobres. Quem se importa? Não faz parte do meu show o não me importar, Vallejo.
"E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)."
Marcadores: Literatura e sociedade
1 Comments:
O eficácia que a prevenção da doença atingiu nas classes alta e média arrematou a continuidade de campanhas de conscientização.
A AIDS, sem a companhia de atores globais e entrevistas sentimentais, não vende bem, não dá IBOPE.
E o que sobra? Como foi dito, a mera indignação.
Nossa saúde está falida a muito Seja AIDS, dengue ou febre amarela, a incompetência e a falta de vontade são gritantes. Sorte daqueles que podem arcar com um plano de saúde.
Enfim, a AIDS não faz mais parte do show, fica mesmo, se muito, nos bastidores.
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