Brincando de Montaigne
Selecionei trechos de matérias que li nos jornais de ontem. Acho que vale a pena postá-los aqui.
1) Sobre o caso Isabella ("Pais sem rumo, crianças sofridas"), texto de Maria Rita Kehl, Estadão, Caderno Aliás: "(...) Mas a família moderna, fechada sobre si mesma, toda voltada para a produção de bem-estar, fundada nas formas mais egoístas de amor, é um canteiro propício, no mínimo, à violência psicológica. Os filhos frustram as expectativas dos pais, o amor vira moeda de barganha e chantagem mútua, a esperança de entendimento de parte a parte é freqüentemente obstruída pela culpa que cada um sente por não amar o outro tanto quanto devia(...)"
2) "De afetos e paixões", coluna de Daniel Piza, Estadão, Caderno Cultura: "(...) 'A habituação embota a visão de nosso discernimento' escreveu Montaigne (e eu estou brincando de Montaigne aqui; todos nós que escrevemos não-ficção brincamos de Montaigne)"
3) "Com a língua solta", uma conversa de titãs entre Ian McEwan e Steven Pinker, Folha de São Paulo, Caderno Mais: "Quando eu estava na universidade, aprendi que Wittgenstein estava certo ao dizer que os limites do meu mundo são os limites da minha língua. Mas Chomsky e depois você - refinando muito Chomsky-, ao considerar como o pensamento realmente evolui - e por experimentação empírica-, sugerem que os modos como pensamos independem da linguagem" (McEwan).
Foi um domingo divertido. Há tempos que os jornais não andavam tão bons.
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4 Comments:
É...já dizia um amigo meu: "amor em demasia e sem discernimento, buscando o preenchimento do próprio vazio, embota e entorpece o sentir..." Para mim o risco de dar amor demais está na mesma medida de orientar os filhos, de menos. Belo post. Grande abraço. Paulo Lima
A coluna do Piza e a republicação do Mais!(só achei o conteúdo muito mal ilustrado com aquelas alusões um tanto óbvias às citações)também encabeçaram meu clipping pessoal.
Caro Amigo,
Os textos destacados são realmente um "prato cheio" para um domingo.
Não se foi impressão minha, mas parece que o Piza, no citado artigo, acabou por transmitir mensagem visivelmente indireta a um fato recente que tem tomado os holofotes e ocupado, em destaque, a coluna diária de quase todos os jornais do País.
Embora seu Autor não tenha manifestado opinião (nada de desabafo!), o texto propôs, com erudição, um repensar sobre os sentimentos humanos e suas proximidades, embora aparentemente antagônicos. Só por isso já valeu muito a pena.
Os sentimentos têm de ser sentidos; não apenas transformados em jogo de palavras criado pelo ser humano.
Grande abraço!
oi amigo.. também li as 3 matérias referidas o que me fez começar bem o domingão !! e agora estou aqui em NY constatando, além da quantidade inacreditável de estrangeiros e camelôs pelas ruas, que o que é bom... está lotado: mcewan e pinker na morgan library e perelman no met, nem pensar. Lembrei-me de um grande amigo argentino (uma contradição em termos?) que dizia, com o perdão do meu péssimo portuñol "hay un mundo muito melhor, pero mas caro"
paciência, só tendo passeado e comido tão bem nessa primavera fria já foi muito bom..
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