Fenômenos intelectuais
Ninguém melhor que Bernardo "Pessoa" Soares conseguiu colocar em palavras o prazer da leitura e da vida intelectual. Falo do fragmento abaixo, extraído do "Livro do Desassossego".
"Para sentir a delícia e o terror da velocidade não preciso de automóveis velozes nem de comboios expressos. Basta-me um carro elétrico e a espantosa faculdade de abstração que tenho e cultivo.
Num carro elétrico em marcha eu sei, por uma atitude constante e instantânea de análise, separar a idéia de carro da idéia de velocidade, separá-las de todo, até serem coisas-reais diversas. Depois, posso sentir-me seguindo não dentro do carro mas dentro da Mera-Velocidade dele. E, cansado, se acaso quero o delírio da velocidade enorme, posso transportar a idéia para o Puro Imitar da Velocidade e a meu bom prazer aumentá-la ou diminuí-la, alargá-la para além de todas as velocidades possíveis de veículos comboios.
Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente – perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza.
Nunca vou para onde há risco. Tenho medo a tédio dos perigos.
Um poente é um fenômeno intelectual. "
17 Comments:
Olá amigo
Está é a melhor resposta para aqules que atacam qualquer ato cultural como puro bobismo e sedentarismo. aliás, aqueles que criticam quem faz práticas esportivas como puro cabeças de bagres, são os verdadeiros cabeças de bagres ignorantes.
Parece até que quem lê não pode fazer nada e quem faz exercícios têm que ser analfabetos.
abs
ENCANTADOR, AMIGO DE M.
ENCANTADOR, AMIGO DE M.
Amigo,
o Raulzito cantava: "O caminho do RISCO é o sucesso, o do acaso, é a sorte"
... mas, como é o caso da nossa economia, inflação&PIB, tem uma conta errada.
Que eu saiba o caminho do risco tem 50% de chance de sucesso e 50% de azar.
Ou alguma probabilidade semelhante... afinal, se o sucesso fosse garantido, não haveria risco algum.
Eu também não correria riscos em carros de corrida. Andar de avião eu topo mas não sei por quanto tempo.
Aquelabraço!
Realmente, nada melhor do que ler...
Bjos
Léo e só: não entendi a sua colocação!
Ler, Carol, nada melhor.
Theo, será que é porque a chance de morrer é maior num acidente aéreo?
Queria vê-lo abstrair um orgasmo em coisa-real. Esses idealistas são todos uns covardões...
Aliás, essa moderação de comentários deixou o blog muito chato,além de impedir o debate...
Caro Kx, sempre com agudas provocações!
Digo-lhe, meu caro, o porquê da ativação de moderação dos comentários: evitar que o computador de meus prezados visitantes sejam infectados com vírus. Há duas semanas, "indivíduos" passaram a postar comentários sucintos linkados em inglês, tais como "see here", "very interesting". É clicar e se infectar!É uma pena, pois o blog fica mais chato e perde a força do debate. Sorry, I am so sorry.
Ainda, a propósito de seu comentário, lembro-me de uma grande intelectual dizendo que o pior amante (na cama, veja-se bem) é o intelectual...
Me encanta como o Bernardo passeia pelo mundo sem sair do lugar.
Sou muito rude e bruto para entender como é possível ter a sensação real de velocidade (e eu já andei a quase 300km/h na vida real)sem estar efetivamente a tanto. Será que Pessoa, quer dizer, abstraindo dele, Bernardo Soares (ou Ricardo Reis? ou Álvaro de Campos?) vaticinou o mundo virtual e não nos contou nada? Puxa, é fantástico pensar que Caeiro (ou mesmo Pessoa?) conheceu a internet sem sequer saber o que é um computador...!
Sentir a sensação (seja ela qual for) é bem diferente de pensar que é possível senti-la. A sensação é real; pensar senti-la é puro devaneio...podendo até mesmo beirar a esquizofrenia..! Abraço!
Amigo, andar de avião me encanta e, já nas alturas, me esqueço dos riscos e das preocupações. Em terra é q o "bicho pega" porque somos 1 cisco na multidão de peões dispostos nos jogos de poder q, antes, acreditávamos serem privilégios dos deuses. Omar Khayyám q o diga ("somos peões das partidas de xadrez jogadas por deus que nos move e nos dispõe 1 a 1 antes de nos recolher à caixinha do nada")
Enfim... tivemos a premiação do Oscar, o jogo no Maracanã, os debates presidenciais nos USA, um ditador q se aposentou, policiais q deram tiros nas favelas, traficantes q colocaram banca contra as providências anti-dengue & febre amarela, Faustão e novelas da Globo... reasseguradora rotina do tempo cíclico em q tudo retorna e qualquer novidade dá na mesma?!??...
Abraço!
Um jornalista amigo entrevistou o professor Harold Bloom e o perguntou se ele, Bloom, não havia substimado Pessoa em "Gênio". Pessoa está entre os gênios do livro, como Machado, mas com tantas ressalvas e influências... Bem, o professor discordou da argumentação por várias razões que não cabem alinhar aqui. Quero dizer que me parece que o poeta português ainda é, de alguma modo, substimado no mundo. Se não, ao menos entre nós, deveria constar do currículo básico. Num mundo ideal, nós o leríamos todas as manhãs, e antes de adormecer, e o diríamos nos bares, a toda hora...
O Anotador, de passagem por este nicho tão saboroso.
Jonas, acredito que não por acaso seja o livro de cabeceira de muitos escritores.
Anônimo, acho que você anda precisando ouvir mais Mozart (Concerto para piano números 17 e 21, para começar) e Brahms (Concerto para piano número 2). Schumman, Concerto para piano opus 54 também ajudaria, mas só o primeiro movimento). Aproveite!
Apontador, todos Pessoas são indispensáveis...
Amigo, as músicas são lindas. Foram muitas as sensações que esses clássicos me proporcionaram. Uma deliciosa viagem mental. Estou refletindo. Foi demais. Obrigado pela excelente recomendação. Abraço!
"Anotador", e não "Apontador".
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