O Caderno Rosa de Madre Teresa
A edição deste mês da revista Piauí traz uma excelente matéria assinada por Rodrigo Naves. Trata-se de uma homenagem ao falecido escritor José Paulo Paes que, na minha opinião, foi quem melhor traduziu Kaváfis para o nosso idioma. Os pontos altos do texto são dois: o título - "Um homem como outro qualquer" - e a relação da figura do escritor com a sua obra, a decepção que muitas vezes é vivida pelo "fã" quando encontra o seu "ídolo". Diz Naves: "Numa passagem comovente, falando de Cézanne, Merleau-Ponty diz que o melhor de um artista deve ser buscado na sua obra. É nela que as incapacidades pessoais de alguma forma se redimem, em que os nossos limites fazem vislumbrar algo do que se conseguiu ser, e por isso as obras precisam ganhar a luz do dia. Neuróticos renitentes deixaram trabalhos admiráveis. Cézanne, por exemplo. São os pecadores que entendem de salvação. Não os carolas." Lembrei-me do primeiro e fortuito encontro que tive com Hilda Hilst poucos dias antes de sua morte. Estava serena. Era a expresão da paz, da castidade que nunca existira em sua obra genial. O choque de esperar Lori Lamby mas encontrá-la convertida em Madre Teresa.
Marcadores: Literatura
1 Comments:
A.M.,
"É nela que as incapacidades pessoais de alguma forma se redimem, em que os nossos limites fazem vislumbrar algo do que se conseguiu ser, e por isso as obras precisam ganhar a luz do dia". Brilhante e bela a citação. Acho, contudo, que a grande arte que não vem à luz é como tanto ser que não virá, impossibilidades não alentadas pelo acaso que governa o que tentamos organizar ao fazer histórica e crítica - imperativo da vital que nos ilude.
Aproveito a ensancha para convidar seus leitores a perder tempo com uns tonsás (pré-poemas para posta-restante) e certos aforismos d'algibeira, no endereço deste idólatra do deus Acaso.
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