Conceição
Encontrei Conceição hoje. Como sempre, estava bem arrumada, maquiada, cabelo preso. Assim que me viu, abriu o seu largo e gentil sorriso e me deu o seu cordial bom dia. Negra, não deixa evidente os seus mais de sessenta anos. É telefonista. Passa o dia a fazer ligações a pedido de gente graúda. Reza a história que não conhece o mau humor. É pá-pum, batata: vejo Conceição e lembro-me imediatamente de Ella Fitzgerald e de Manuel Bandeira. A alegria, a vitalidade, o alto astral de Ella. Isso é Conceição. Do tuberculoso escritor, invadem o meu pensamento os versos de "Irene no céu": Irene preta/Irene boa /Irene sempre de bom humor./ Imagino Irene entrando no céu:/ — Licença, meu branco!/ E São Pedro bonachão:/ — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. Conceição também é isto: Irene adiada. Tenho fé em descobrir, além de toda sociologia, para lá de qualquer antropologia, o que faz, apesar de toda força em contrário, de algumas pessoas Conceição, Irene e Ella. Que não demore muito, Amigo de Montaigne! Tempus fugit.
2 Comments:
Quando da primeira vez, duvido que não soubesses já quem era mesmo sem perguntar . Mesmo sem nunca teres visto.
Conceição é, Amigo, um arquétipo. Telefonista, mas podia ser cantora ou musa. Conceição.
Pensando bem, a voz que acalma é de Ella e musa, acabou de virar...
Conceição...
Karl, o vinho está bom?
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