Faguet e a arte de ler
O assassino de poesias. Acredita ser alfabetizado, mas basta a leitura de um único verso para que se vislumbre o criminoso em ação. Incapaz de perceber as nuances da pontuação, o ritmo, a musicalidade artesanalmente lapidada, tece acusmas torturantes. É caso de homícidio culposo, sem intenção de dolo, pois não se enxerga um apedeuta absoluto. Quem melhor caracterizou esse tipo aversivo foi Émile Faguet (1847-1916). Em seu livro "L'Art de Lire" (A arte de ler), no capítulo dedicado aos poetas, ele tenta reabilitar o leitor de poesias ao instruí-lo. "Os poetas propriamente ditos (...) devem ser lidos, primeiro, em voz baixa e, em seguida, em voz alta. Primeiro, em voz baixa, para que compreendamos seu pensamento, pois a maioria de nós, por força do hábito, não compreende mais do que a metade do que lê em voz alta. Depois, em voz alta, para que o ouvido se dê conta da cadência e da harmonia, sem que, dessa vez, o espírito deixe escapar o sentido, pois já o terá assimilado antecipadamente." Não por acaso, Faguet termina sua obra dizendo que "a arte de ler é a arte de pensar com um pouco de ajuda". E eu acrescentaria que a arte de bem ler poesia é a arte de pensar em sua máxima intensidade.
5 Comments:
É vero! Eu acho que mereço estar na CADEIA, pois sou um destes assassinos. Instrutivo post. Um grande abraço, Caro Amigo. Paulo
Caro Paulo,
quem é não se reconhece como tal!
Abraço!
Eu vi esse livro na biblioteca. É grosso e bem velho. Vou ver se leio algum dia, abraços.
Um curto e bele texto, parabéns.
Eu costumo ler várias vezes a mesma poesia até compreender bem o seu sentido e lê-las em voz alta é um deleite para os ouvidos.
Por vezes decoro uma ou outra e fico brincando de declama-las em diferentes ritmos, com diferentes entonações, até tentar extrair o máximo de significado delas. E isso exige tempo, exige maturação, como um boa bebida. E mesmo assim, com o passar dos meses, vou descobrindo novos significados escondidos nos recondidos das palavras...
Um grande abraço
Coração branco, padaria aberta e muro levantado/vida azul, longa metragem no vidro de arroz/sem assim ter, nada poder, ó tomada velha/pedra de mar na parede que jaz.
Entenderam, inocentes? hehehe
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