Divina liberdade

O bom filósofo é como o bom poeta: sucinto e certeiro. Quer conhecer Sevilha? João Cabral de Melo Neto torna isso possível com apenas quatro versos: "A cidade mais bem cortada/ que vi, Sevilha;/cidade que veste o homem/ sob medida." Veja o poder de síntese de Frank Paul Bowman (citado pelo italiano Carlo Ginzburg no primeiro número da revista serrote): "Se nossos ancestrais não tivessem alterado a moral de Jesus, deificando-o, se não tivessem visto nele mais que um filósofo que desejava trazer os poderosos ao mesmo nível do povo, o fanatismo e o engano não os teriam agrilhoado ao pé dos reis e dos padres e hoje não teríamos que sacrificar nossas riquezas e nosso sangue para estabelecer o reino da razão e da liberdade. Que a liberdade, portanto, seja a nossa divindade [...]". A capacidade de reduzir, recortar, dizer o máximo com o mínimo: Nietzsche, o Sumo Pontífice.
8 Comments:
Amigo de M.,diga-me: você gosta de Antonio Damásio e seus estudos, pesquisas ? Já leu algo dele?
abraços, Helena
Amigo de M.,diga-me: você gosta de Antonio Damásio e seus estudos, pesquisas ? Já leu algo dele?
abraços, Helena
Tudo que Nietzsche escreveu vai contra a idéia dele como sumo pontífice, caro Amigo.
A liberdade como divindade é um oxímoro. Na presença da divindade nunca haverá liberdade...
Caro Karl,
"Sumo pontífice" foi usado ironicamente.
Abraço!
Então na verdade, somemos ao bom filósofo e bom poeta, o bom ironista. Que pode ser um ou outro, ou os dois. Parabéns!
Dizer o máximo com o mínimo sempre é um perigo. Aliás, o mesmo perigo das grandes ironias é o das grandes bobagens e o da vida ela mesma: ser levado a sério...
grande abraço
Caro Karl,
o problema, quando se diz o máximo com o mínimo, é do interlocutor. As interpretações e abstrações dependem somente dele. Pegue um aforismo nietzschiano escrito com menos de uma dúzia de palavras. Peça para duas pessoas que ficaram igualmente impressionadas a opinião de cada uma delas. Pronto! Está aí o perigo.
Abraço!
P.S.: Não deu no Paulista. Mas temos a Libertadores...
O que vc chama de perigo, chamo de hermenêutica, caro AM.
Eu, aqui do meu cantinho, nada sei sobre Nietzsche e oxímoro vou ter que olhar no dicionário para saber o que é. Só posso dizer que adorei a idéia da liberdade como divindade. Isto sim é algo em que vale acreditar.
Abraço.
Bo.
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