Da tradução
Paris and Helen, de Jacques-Louis David, 1788. Óleo sobre tela
O problema da tradução. Quando leio Dostoiévski, sou invadido, invariavelmente, por um pensamento intrusivo: "-Em russo deve ser diferente". Recrimino a mim mesmo por não ter aprendido o tal idioma. Com Homero, a mesma coisa. "-Ah! Se eu soubesse grego...". A maldição de Babel? Umberto Eco praticamente esgotou o tema da tradução, os seus aspectos positivos, os pontos negativos. Decidi parar de me lamentar. Se uma "Ilíada" já é monumental, o que pensar do deleite proporcionado por duas, três, quatro boas traduções, por várias "Ilíadas"? Veja você mesmo. Abaixo, a tradução dos primeiros versos do Canto I:
"Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
Verdes no Orço lançou mil fortes almas,
Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
O de homens chefe e o Mírmidon divino."
(tradução de Odorico Mendes)
"Canta-me a cólera - ó deusa! - funesta de Aquiles Pelida,
causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos
e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados
e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
desde o princípio em que os dois, em discórdia, ficaram
cindidos,o de Atreu filho, senhor de guerreiros, e Aquiles divino."
(tradução de Carlos Alberto Nunes)
"Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles."
(tradução de Frederico Lourenço)
"Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
Verdes no Orço lançou mil fortes almas,
Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
O de homens chefe e o Mírmidon divino."
(tradução de Odorico Mendes)
"Canta-me a cólera - ó deusa! - funesta de Aquiles Pelida,
causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos
e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados
e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
desde o princípio em que os dois, em discórdia, ficaram
cindidos,o de Atreu filho, senhor de guerreiros, e Aquiles divino."
(tradução de Carlos Alberto Nunes)
"Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
ficando seus corpos como presa para cães e aves
de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles."
(tradução de Frederico Lourenço)
4 Comments:
Caro Amigo,
O problema maior, pelo que percebo, ocorre quando a obra deixa de ser do Autor para se tornar fruto do entendimento de um tradutor.
E a tradução, por mais fiel que tente ser ao texto original, nunca será capaz de revelar o verdadeiro sentido e alcance dos termos estrangeiros.
Mesmo que o leitor, pela sua cultura, tenha conhecimento do idioma, a tradução não será correspondente à essência da escrita.
Dos males, porém, o menor: que a tradução seja resultado da compreensão própria de quem lê; não de outrem.
Abraço!
ledo ivo engano... traduziu=fudeu.
"translation is prescribed as a necessary evil.It is a drug that we sniff at" ...
Agreed with nine!
Falando como um tradutor, é mesmo um "mal necessário"...
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