
“Conhece-te a ti mesmo”, disse Sócrates ter aprendido com o oráculo de Delfos. Árdua tarefa a proposta pelo óraculo. Primeiro, caberia refletir se somos realmente um só, se há um único ser à espera da descoberta. A literatura de Fernando Pessoa deixa evidente que não somos um único “eu”, mas vários. E são outros “eus” na medida em que são heterônimos, e não meros pseudônimos, que designariam uma mesma pessoa, um mesmo “eu”. Fernado Pessoa não é Alberto Caeiro, que não é Ricardo Reis, que não é Álvaro de Campos, que não é Bernardo Soares, e que são todos Pessoa. Segundo, como disse Ortega y Gasset, "yo soy yo, y mis circunstancias”. Um mesmo “eu” pode se manifestar de maneiras diferentes de acordo com cada situação pessoal ou, mais dialeticamente, contexto histórico. No âmbito da filosofia, Kierkegaard, o idealizador do existencialismo, também abriu mão de “quase-heterônimos”, pois não eram meras alcunhas, no meu entender, para muitas de suas obras: Johannes de Silentio, Victor Eremita, Constantin Constantius, Frater Taciturnus, Virgilius Haufniensis, Johannes Climacus, dentre outros. Numa era de crise de identidade, de crise existencial, em que tédio é uma palavra cada vez mais freqüente em nossas bocas, nota-se que a mensagem do oráculo, assim como toda a filosofia grega, ainda é bastante atual. E dá-lhe existencialismo!