Da certeza
A única certeza que possuimos é está: morreremos. É justamente essa consciência da finitude que nos impulsiona, que nos faz acordar cedo, estipular prazos e metas, planejar filhos, vislumbrar a aposentadoria, dentre outras ações tão prosaicas. No decorrer da História, o tema da transitoriedade de todas as coisas foi tratado por filósofos, teólogos, matemáticos, físicos e poetas, para citar apenas alguns grupos de maior destaque. Na poesia, o carpe diem horaciano foi incorporado por autores tão distantes no tempo como Camões e Emily Dickinson. Vejam os trechos desses poetas, respectivamente: "(...)Porque, enfim, tudo passa,/não sabe o tempo ter firmeza em nada;/e nossa vida escassa/foge tão apressada/que, quando se começa, é acabada."(da ode "Fogem as neves frias"). O seguinte poema de Dickinson chama-se "Cemitério" (tradução de Manuel Bandeira): "Este pó foram damas, cavalheiros,/Rapazes e meninas;/Foi riso, foi espírito e suspiro,/Vestidos, tranças finas./Este lugar foram jardins que abelhas/E flores alegraram./Findo o verão, findava o seu destino.../E como estes, passaram." Em 1927, Bertrand Russel proferiu uma famosa palestra intitulada "Por que não Sou Cristão:Uma Análise da Idéia de Deus e do Cristianismo". Disse o inglês que "aquilo que os homens querem, de fato, não é o conhecimento, mas a certeza." Morte nihil certius est.
25 Comments:
Depressão?
Melancolia, talvez.
Pelas teorias aventadas no post passado, basta reproduzir-se e jamais morrerás, ou pelo menos não morrerão metade de teus genes...
Os genes são inatos ao corpo físico. Este, de fato, é transitório e os genes com eles se vão (ou ao menos deveriam ir). Olhe para uma pessoa e pergunte a si mesmo: O que vejo? Se a resposta for um "amontado de células" ou apenas alguns "genes", não haverá, infelizmente, oftalmologista que o faça enxergar o que há de verdade.
Caro anônimo, em parte, te dou razão.Por outro lado, somos produtos de nossos genes, somos oriundos dos processos de transcrição e tradução protéicas,ou seja: "a estrutura terciária". Quando olho para outras pessoas não vejo apenas um amontoado de células. Se assim fosse, preferiria perder a alcunha de "Amigo de Montaigne"...
Acho que, pela retrospectiva de seus "posts", a alcunha lhe cai bem.
Genes. Genesis. Está tudo aí.
Culto Amigo,
Não guardo a mínima dúvida de não haver epíteto melhor do que o eleito para te vestir. Sei também, pelo que depreendo de seus brilhantes post´s, que sua visão humana e filosófica de vida o fazem enxergar o ser humano muito além dos genes e células. Consignei a indagação a título de simples reflexão para nós mesmos. Quis apenas ponderar, como já dissera Shakespeare, "que há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia".
A certeza que temos sobre a morte é a incerteza de saber se ela realmente existe.
Caro Anônimo, não entendi o seu último parágrafo.De qualquer maneira, ainda que bajulatórias, obrigado pelas palavras.
Só há uma.
E qual seria essa morte? Morte física?
Não faço parte do grupo que acredita em espíritos, reencarnação, etecetera e tal.
A morte, então, é a "crença" de um suposto término da vida, mas não uma certeza.
A reprodução é uma necessidade básica das espécies (não apenas um privilégio nosso) para que exista sua perpetuação. Esta se faz através da transmissão dos genes fundamentalmente. O que se supõe além disso são balelas. Morremos e podemos deixar nossos genes (se acharmos que são dignos de perpetuação) ou apenas alguma obras literárias!
Gametas espirituais! Obras (não só literárias) deixadas para fecundar mentes ulteriores. Formas de transmissão do espírito...
Imortalidade do Espírito ?!?
Voltamos ao ponto de partida.
La Boétie,
para vc espírito é sinônimo de pensamento? Então concordamos que há espírito, OK!
Há evolução nesse pensamento? Somos os mesmos depois de Dostoiévskys, Borges ou Drummonds?
Nos vemos do mesmo modo depois de Darwins, Nietzsches, Freuds ou Kants?
Para onde caminha isto que chamas pensamento?
Partamos do início: o que é pensamento para você? Sem essa definição estaremos numa discussão infrutífera, caro La Boétie. Não há vida após a morte! A morte, para mim é a estação final da vida. Não creio num ser supremo. Vc citou Dostoiévski e Nietszche: sim, D'us está morto!!!
Percebes que, como no post do anônimo acima, estás a trocar de crenças?
Deus é morto. Porém, de nada vale trocar a crença nele pela crença em um grande ponto de interrogação!
Não há ponto de interrogação, pois não questiono a possível existência de Deus. NÃO há DEUS!
La Boétie, tenho certeza de que você conheceu muito bem o finado Prof. Timo-Iaria. Acho que foi ele quem disse que "o conhecimento, simplesmente, não faz o mundo melhor, não contribui para o progresso da humanidade, mas sim o que você faz com o conhecimento obtido. Pois bem: "Deus está morto". E, a partir dessa constatação, o que fazer para melhorar o mundo ou, menos megalomaniacamente, melhorar você?
NOTA DE FALECIMENTO
Foi encontrado morto, debruçado em seu teclado de computador, hoje pela manhã, o arrogante e niilista internauta de codinome La Boétie. Ao lado dele um bilhete em que constavam as seguintes palavras:
"Amigos de Amigos de Montaigne
Minha existência deixou de ter propósito. Abraços a r.o., ped paulo, anônimos e, principalmente, ao Amigo de Montaigne. Minha maneira de melhorar-me é extinguindo-me.
Minha missão está cumprida."
La Boétie não deixa família ou herdeiros. O corpo será cremado. Ninguém enviou coroa de flores.
Uma coroa acaba de ser enviada... Bela passagem por este blog! Espero que renasça, ainda que não como La Boétie, mas com um novo e estimulante "heterônimo"...
P.S.: Assinam o envio da coroa e comprometem-se com o rateio para o pagamento ped paulo, r.o., anônimos e A.M.
La Boétie, "melhorar você" não se referiu a você mesmo, mas ao ser humano em geral. Se não somos capazes de melhorar o mundo com o conhecimento que adquirimos, deveríamos, pelo menos, mudar nós mesmos, uma vez que seria um pouco megalomaníaco querermos mudar o mundo. Saudações cordiais para o além-túmulo, do aquém-túmulo.
Morte nihil certius est.
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