Do não dito
"The Key" [1946] by Jackson Pollock.
A pintura expressionista abstrata é, via de regra, bastante incômoda para muitos admiradores da arte figurativa. Já ouvi de diversas pessoas, várias vezes, a frase "isto até eu faria melhor", diante de uma obra de Jackson Pollock. Mas a arte abstrata, o expressionismo abstrato, particularmente, pode muito bem ser "explicado" pelas palavras emprestadas de Henry James. Disse o americano: "Não há que especificar o mal em nenhuma obra literária; não se diz que um personagem é assassino, ou incestuoso, ou ímpio ou qualquer outra coisa que seja; isso debilita a presença do mal. O melhor seria que se sentisse o mal como uma atmosfera sombria." Assim é a bom abstracionismo, aquele que nada explicita, mas que faz transparecer o não dito, o não pintado, como uma charada a ser decifrada pelo espectador bem aparelhado.
14 Comments:
Nem todos estão aparelhados para encarar o expressionismo abstrato. É necessário muito treino. H.James era um sábio.
O que você vê, caro Amigo? não consigo enxergar onde está a chave!
Acho que vi uma chave, lá no meio...
No meio? Seja mais direta!
Veja na parte mediana para abaixo uma seta de ponta cabeça, que também lembra o número quatro ao contrário. Ele indica exatamente para a chave, escamoteada entre entre os demais objetos de mesma cor.
A seta eu vi, mas a chave nem sombra dela. De qualquer modo, obrigado pela ajuda!
Seria o abstracionismo um jogo como "onde está Wally?"
Só uma dúvida: só por que a obra é intitulada "A Chave", devemos necessariamente procurar a figura de uma chave? Esse título pode ter inúmeros outros significados... Não pensei em procurar a chave nem por um segundo...
O quadro é belíssimo e eu não faria igual, quanto mais melhor...
Um anônimo é diferente de outro anônimo...
Amigo de Montaigne é diferente de La Boétie?
Pode ter certeza que sequer o "artista" sabia bem o que fazia ao despejar tinta e fazer rabiscos em uma tela. Saiu essa "obra de arte" chamada pelos demais, que nunca a conseguiram definir, de "abstracionismo"! E viva a "arte"!
Não me consta que o Amigo de Montaigne tivesse explicitado o nome de La Boétie.
Por outro lado, teve Montaigne apenas um amigo?
Acho que se a 'charada' que procuram decifrar não deve ser decifrada. A arte abstrata, e não só ela, deve manter um enigma indecifrável, que mesmo o maior exercício dialético não deve resolver; e que devemos ter contato de outra maneira. Se resolver é pq a arte falhou.
Estamos muito preocupados em procurar respostas, tudo deve ter uma explicação dentro dos modos em que fomos acostumados. Deveríamos, talvez, nos entregar de maneira diferente ao que se apresenta longe dessa linguagem mais usual e cientificista.
É difícil, eu não consigo ainda; e nem sei se esse é o caminho. Mas seria triste se em cada quadro abstrato eu ficasse procurando a 'chave'. Entregar-se à obra, e não esperar algo dela pra vc. Talvez.
Concordo com Lean Carlos
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