"Indignation"
Uma equipe de atiradores de elite do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos em serviço na Guerra da Coréia
Philip Roth já não é mais o mesmo. Durante o vôo (ainda se acentua, caro Presidente) de retorno ao Brasil, li Indignation, seu livro mais recente e ainda sem tradução por aqui. O narrador-protagonista é o jovem judeu ateu (é curioso como já ouvi indivíudos de ascendência judaica se declararem judeus ateus; os mais famosos que me ocorrem agora são Oliver Sacks e Woody Allen) Marcus Messner, filho único e de conduta exemplar de um açogueiro kosher do subúrbio de Newark. O cenário, para quem conhece Roth, não é novo. O vigor, sim. Menor. Parece que o talentoso criador de Zuckerman deixou de lado as sutilezas habituais e fez questão de deixar explícita a "mensagem" de Indignation, até mesmo nas últimas palavras do livro: "of the terrible, the incomprehensible way one's most banal, incidental, even comical choices achieve the most disproportionate result". A retidão de caráter e a incorruptibilidade intelectual de Marcus Messner, que produzem os melhores momentos do livro e a memorável cena em que ele "declama" passagens de cor do Bertrand Russel de Why I Am Not a Christian para o diretor "chatólico" da Universidade de Winesburg - aqui uma clara alusão a Winesburg, Ohio de Sherwood Anderson - custam a vida do jovem narrador-defunto. O sentimento de culpa que é introjetado no brilhante Marcus Messner por sua idishe mama remete o leitor não mais a um cômico mas agora trágico Alexander Portnoy. O problema é que isso é feito, novamente, de maneira crua, escancarada, sem dar chance ao leitor de apreender nas entrelinhas, gradativamente, a atmosfera asfixiante de ser uma vítima e refém da opressora relação familiar judaica. Ainda que sem a mesma força de seus outros 28 romances, o Roth de Indignation deve ser lido, pois o óbvio muitas vezes tem de ser dito. E nós, após a morte de Zuckerman e de Marcus Messner, aprendemos que a vida é feita muito mais de imponderabilidades do que de certezas.
7 Comments:
Belo post, Amigo! Mas uma pena ler que o Roth caiu de produção, depois da seqüência fantástica que ele vinha soltando.
Caro Jonas, obrigado. Confesso que minhas expectativas eram maiores. Mas um Roth "mediano" é melhor que muito escritor em sua "melhor forma".
Parabéns pelo ensaio sobre o último livro do Manguel! Fiquei tentado a não escrever nada neste blog e apenas colocar o link.
Belíssimo post!
Obrigado pelas palavras gentis, Amigo. E aproveito para dizer que, se você continua no "espírito canadense", trata-se da hora exata para ir atrás da maior pérola do país: Alice Munro.
Um abraço
Jonas, e que venha Alice Munro!
amigo de Montaigne, indignada estou eu que não consigo publicar um comentário no seu blog. Ele é restrito à algumas pessoas? não entendo.Bom em todo caso, eu gostei do critica ao "Indignation" e aguardo a chegada do livro e assim poder lê-lo também.
abraços
HELENA
Helena, não há nenhuma censura. Em virtude das inúmeras tentativas de "comentários" que nada mais eram que "links" para vírus, a moderação de comentários foi ativada. POrtanto, faça o seu comentário da forma habitual.
Saudações, Amigo de Montaigne.
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