
Sísifo, de Tiziano, 1549
Em relação ao último "post", recebi algumas mensagens por e-mail. Dentre as mais interessantes, ressalto o comentário do escritor Pedro Maciel, que me autorizou a citá-lo nominalmente: "ninguém pode nos salvar dos nossos pensamentos." Nós, seres humanos, não temos a "habilidade" de não pensar em nada, Pedro. Concordo com você. Disse Clarice Lispector: "Por que é que um cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga." Como não somos cães, dá-lhe indagação... Em relação ao segundo questionamento, feito a partir do "Guardador de Rebanhos", a resposta encontra-se na própria obra de Alberto Caeiro: " Num dia excessivamente nítido,/Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito/Para nele não trabalhar nada,/Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,/ O que talvez seja o Grande Segredo,/Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam./Vi que não há Natureza,/Que Natureza não existe,/Que há montes, vales, planícies,/Que há árvores, flores, ervas,/Que há rios e pedras,/Mas que não há um todo a que isso pertença,/Que um conjunto real e verdadeiro/É uma doença das nossas idéias./A Natureza é partes sem um todo./Isto é talvez o tal mistério de que falam./Foi isto o que sem pensar nem parar,/Acertei que devia ser a verdade/Que todos andam a achar e que não acham,/E que só eu, porque a não fui achar, achei." O mistério, o "sentido oculto das cousas" está em nós, é produto de nosso repertório mental, arquetípico, sempre em busca de explicações para tudo o que acontece e que nos cerca. Somos eternos Sísifos, embora não sejamos capazes de perceber que não há nehum sentido nessa tarefa monótona e repetitiva que é procurar sentido em tudo.