Intelectual: procura-se
No primeiro aniversário da Diálogo, Otto Maria Carpeaux entre admiradores: atrás José Naegle, à direita, Chico Feitosa.
Acabo de ler a recém-lançada autobiografia de Leandro Konder, Memórias de um intelectual comunista. Leitura fácil, ainda que nada superficial. Konder foi - e continua a ser - um intelectual fiel a si mesmo. Acredito, firmemente, que ele seria capaz de um ato de grandeza como o que teve José Saramago ao romper com Cuba após a execução de três dissidentes do regime castrista. Não acredito em intelectual com vínculo partidário; essa denominação só se aplica a pensadores suprapartidários. Aqui, "partido" entendido muito além da legenda que se defende. Gabriel García Márquez, na direção oposta àquela adotada por Saramago, foi covarde. Preferiu trair a si mesmo e "preservar" a sua vinculação ideológica com a Cuba de Fidel. O escritor colombiano manchou indelevelmente o legado de Zola, do escritor-intelectual pronto a levantar a sua pena contra as arbitrariedades que se engendram na calada da noite. J'accuse!, e esse acusador é o verdadeiro intelectual - infelizmente, à mingua nos dias de hoje. Otto Maria Carpeaux faz falta, ele que teve a envergadura moral de colocar a obra de Ezra Pound em seu devido lugar: no limbo. Em setembro de 1948, Carpeaux publicou na imprensa nacional o artigo "O difícil caso Pound", em que escreveu: "(...) mas esse 'poeta máximo do nosso século' é um fascista, um traidor, e está maluco. Contradição gravíssima! (...)Quando [o crítico Robert M.] Adams diz que 'ninguém ousa negar à sua obra a enorme importância' então eu gostaria de dizer: esse ninguém sou eu (...) Dizem que Dante escolheu o metro ao terceto para impedir que se tirasse sequer um único verso do seu poema tão solidamente integrado; quanto aos 84 Cantos de Pound, seria um alívio se tirassem mais e mais dos inúmeros versos, acumulados de propósito sem coerência lógica, mas sim conforme as associações literárias do poeta, todas elas livrescas". Konder, estou certo, não me decepcionaria.
7 Comments:
Mais uma vez ponto para Saramago! Já leu o último dele?
Abc
JS
Ainda não, mas não tardarei em fazê-lo!
e o heidegger? o que tu achas?? abç
Heidegger? Obra prescindível.Ser humano execrável. Pobre Hannah...
Amigo, gosto muito do Saramago como romancista, mas não vejo muita lucidez nas posições políticas dele. Será que foi apenas recentemente que ele se convenceu das barbaridades dos porões de Havana? Será que ele é tão ingênuo assim? Afinal, ano que vem completam-se cinco décadas de crimes e torturas com a assinatura de monsieur Castro.
E infelizmente ele continua falando bobagem a cada vez que abre a boca para falar de política. Como há poucas semanas, quando declarou a diversos veículos, sobre a crise econômica, que "Marx nunca teve tanta razão" ou, pior:
"Enquanto não tivermos uma alternativa política capaz de travar batalha em todos os níveis da sociedade, não será possível desalojar o capitalismo do poder".
Esse é o Saramago que ressoa em livros pavorosos como A Caverna e Ensaio Sobre a Lucidez. Pena que ele não é sempre o Saramago de Ricardo Reis e Memorial do Convento...
abração
Caro Jonas, alguém já disse que um "marxista com mais de 30 anos é patético". Talvez, substituindo-se "patético" por "ingênuo" encontremos Saramago. Ele acredita nas tais bobagens que continua dizendo, mas o sua consciência de homem humanista não permite que ele seja refém dessas idéias "excêntricas". Gabo só fala as mesmas bobagens e não se redime diante das evidências assombrosas que, depois de Stálin, ainda que numa escala menor, Fidel continuou (e será que continua?) perpetrando.
Abraço!
Amigo de M., gosto muito dos Konder.
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