
A morte recente do filósofo Richard Rorty me entristeceu. Foi um dos poucos pensadores que fazia questão de ser claro em seus textos, fazendo com que o leitor, ainda que em desacordo com as suas idéias, fosse incapaz de abandonar o livro antes de terminá-lo, verdadeira avis rara em meio a estudiosos que prezam e fazem questão do obscurantismo, da inacessibilidade de seus ensaios e discursos. Curioso que sou em relação ao estudo da linguagem, não poderia deixar de dizer que, ao lado de Wittgenstein e, em menor grau, Chomsky, Rorty contribui para o melhor entendimento da estruturação da linguagem, principalmente ao demonstrar que uma idéia só deve ser valorizada se, a partir dela, decorrer uma ação modificadora do pensamento e, em última análise, do mundo. Ele acreditava que uma história de vida, com todas as suas misérias e os seus percalços, era a melhor maneira de despertar nas pessoas uma consciência mais correta, justa e, assim, fazer prevalecer a bondade acima de todas as coisas. Eis aí o chamado Pragmatismo, a corrente a qual filiaram o filósofo. Acima de todas as coisas, como Montaigne, Rorty foi um grande humanista que muita falta nos fará. Requiescat in pace.